O que são as “LENTES” (esquemas mentais desadaptativos)

As “LENTES” (esquemas mentais desadaptativos), são traços de nossa personalidade. Constituem verdades incondicionais, ligadas a altos níveis de afeto (emoções), são formadas por memórias implícitas e explicitas, emoções e sensações corporais, pensamentos automáticos negativos, erros cognitivos (pensamentos disfuncionais diante da realidade), desesperança e autocrítica, podendo levar ao adoecimento psíquico. E é por essas “lentes” (esquemas mentais desadaptativos) que vemos a nós mesmos, as outras pessoas e o futuro. Interpretamos as situações do cotidiano a partir delas.

Como se formam as nossas “lentes” (esquemas mentais desadaptativos)? Há quatro tipos de experiências que estimulam a formação das “lentes” (esquemas mentais desadaptativos).

1. Frustração nociva das necessidades: No desenvolvimento da personalidade, seja ela normal ou patológica, nós temos 5 importantes tarefas evolutivas ou necessidades emocionais que são: Cada uma dessas necessidades emocionais básicas, quando não atendidas por nossos cuidadores, relacionadas com maior ou menor grau de vulnerabilidade biológica (herança genética e temperamento), contribuem para a formação das “lentes” (esquemas mentais desadaptativos)

2. Traumatização e vitimização: Aqui, temos exemplos de situações que geram dano à criança, transformando-a em vítima. Uma combinação de um cuidador abusivo enquanto o outro é passivo ou desamparado, ambiente constantemente conflitivo, ou um dos pais doente e o outro, ausente. Importante ressaltar que nem todos as “lentes” (esquemas mentais desadaptativos), se originam de traumas, mas todos são consequências de experiências nocivas repetidas regularmente durante a infância e adolescência.

3. Grande quantidade de experiências boas: Devido ao excesso de experiências boas, a criança não aprende a lidar com seus impulsos e a adiar a gratificação para colher ganhos futuros. Uma criança que não foi ensinada a ter responsabilidades e foi reforçada por ter comportamentos manipuladores, recebendo o atendimento de suas vontades. Junto a isso, não lhe foram dadas noções de reciprocidade, não tendo sido ensinada a entender e a levar em consideração os sentimentos dos outros.

4. Internalização e identificação seletiva de pessoas importantes: Esse processo inclui pensamentos, sentimentos e comportamentos. E ao final, algumas dessas internalizações tornam-se “lentes (esquemas mentais desadaptativos) e/ou estilos de enfrentamento das situações do cotidiano. É o que faz com que a criança elenque um cuidador em detrimento de outro? Acredita-se que o temperamento determine essa eleição quando a criança se identifica seletivamente e internaliza pensamentos, sentimentos, experiências e comportamentos de um dos cuidadores.

Diante de uma situação, nova, estranha, estressora, ameaçadora, nossa “lente” (esquema mental desadaptativo) é ativada e interpreta a situação, na qual respondemos com um estilo de enfrentamento (podendo se expressar através de emoções, pensamentos e comportamentos). Esses estilos de enfrentamento, geralmente, são adaptativos na infância e considerados mecanismos de sobrevivência saudáveis. À medida que crescemos tornam-se desadaptativos, pois necessitam de atualização, mas não são atualizados, ou seja, mesmo você sendo agora um adulto, não estando no mesmo lugar, situação ou relação, segue usando o mesmo estilo de enfrentamento, porque se tornou um padrão.

Todos nós possuímos três respostas básicas as ameaças: lutar, fugir ou paralisar-se. Elas correspondem aos três estilos de enfrentamento que são:

1. Resignação, (paralisar): “Eu desisto de lutar e me rendo!” a pessoa passa a aceitar as suas “lentes (esquemas mentais” desadaptativos), como verdades absolutas e rende se a elas. Isso implica em aceitar passivamente as “lentes (esquemas mentais” desadaptativos), e tudo que elas dizem ao seu respeito, sobre seus vínculos, relacionamentos, sua vida e seu futuro.

2. Evitação (fugir): “Eu fujo!”. como o próprio nome diz, a pessoa passa a evitar situações, eventos, pessoas e até sentimentos e pensamentos que possam conecta-la com a dor das suas “lentes (esquemas mentais” desadaptativos), vale lembrar que muitas vezes esse movimento é feito sem que a pessoa tenha consciência disto, então, para fugir da dor e de tudo que conecte a ela, podendo lançar mão de alguns comportamentos em excesso como por exemplo: bebidas alcoólicas, compras, comida, internet, trabalho, procedimentos estéticos, atividade física, entre outros.

3. Hipercompensação (luta): “Eu reajo!” a ação tende a ser aparentemente oposta à verdade das suas “lentes (esquemas mentais” desadaptativos), aqui temos a resposta de luta. Em sua origem, é uma tentativa de lidar com as sensações de vulnerabilidade, rejeição, solidão, sensação de inferioridade e impotência da contingência infantil. A forma de manejar com as faltas foi pensando, sentindo, comportando-se e relacionando-se como se o oposto do que as “lentes (esquemas mentais” desadaptativos), dizem sobre você. Ex. se me vejo e me sinto inferior as outras pessoas, posso a agir com sarcasmo, superioridade, desprezo ou agressiva.

Renunciar as suas “lentes” (esquemas mentais desadaptativos), significa abrir mão de quem se acredita ser, como “vê” as pessoas e o mundo. Esses esquemas estão profundamente enraizados e, como vícios ou maus hábitos, são difíceis de mudar. Para mudá-los é necessário estar disposto a experienciar a dor. Você precisará enfrentar as “lentes (esquemas mentais desadaptativos), cara a cara para entendê-las. Como englobam memórias, emoções, sensações corporais e cognições, logo o enfraquecimento ou desativação delas abarca esvanecer todos esses elementos.

E o que acontece quando as “lentes (esquemas mentais desadaptativos) são “enfraquecidas, ou até mesmo desativadas”? Elas se tornam cada vez mais difícil de ativar e, quando ativadas, a experiência é menos sufocante, dolorosa e a pessoa recupera-se mais rápido. Nesse processo, são criadas conexões entre o sistema límbico e o córtex pré-frontal. E disso colheremos reações mais calibradas, conscientes e realistas. Esse é um processo moroso, que envolve reestruturação cognitiva, repetidas ativações emocionais, mudança comportamental e uma boa relação psicoterapêutica. Com isso conseguimos alcançar a meta de ser uma pessoa psicologicamente saudável, conseguindo satisfazer de forma adaptativa as necessidades emocionais, com comportamentos alternativos saudáveis que reforçam a autoestima (amor-próprio, autoestima, senso de valor, autorrespeito, autocuidado) e autoeficácia.

Referências

Wainer, K. Paim, R. Erdos & R. Andriola. (Orgs.), Terapia cognitiva focada em esquemas. Porto Alegre: Editora Artmed, 2016.

Young, Jeffrey, Terapia do esquema guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008.  Young J. & Klosko, J. S. Reinvente sua vida. Novo Hamburgo: Sinopsy, 2020.