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O que são as crenças centrais na abordagem da terapia cognitiva e comportamental?

Na década de 1960, o psiquiatra Aaron Beck, percebeu que muitos dos problemas apresentados por seus pacientes eram causados por suas crenças, ou seja, ideias rígidas, cristalizadas e genelizadas sobre si mesmos, profundas, que com pouquíssima frequência são questionadas.  As crenças centrais são formadas desde a infância por meio das interações do indivíduo com pessoas significativas no meio familiar, escolar, e se solidificam e se fortalecem ao longo da vida.

Epictetus no século I já dizia “o que perturba o ser humano não são os fatos, mas a interpretação que ele faz dos fatos”. As crenças são como verdadeiras lentes pelo qual enxergamos e interpretamos a nós mesmos, os outros e o futuro. Sendo assim as pessoas reagem de formas variadas a situações específicas, podendo chegar a conclusões também variadas, devido a forma de pensar, sentir e se interpretar, ou seja, conforme seu “mundo” interior, suas crenças. 

Entende-se que a forma como pensamos, sentimos e nos enxergamos afeta diretamente todos os aspectos da nossa vida, desde a maneiram como agimos no trabalho, na sociedade, nos relacionamentos e até o modo como atuamos como pais. Nossas reações aos acontecimentos do cotidiano são determinadas por quem e pelo que pensamos ser.

A terapia cognitiva comportamental conceitua três tipos de crenças centrais (ou nucleares) disfuncionais:

Desamparo:  a pessoa pensa ser frágil, vulnerável, carente, incapaz, incompetente, fracassada, descontrolada, inadequada. Pensamentos recorrentes são: “não consigo mudar”, “não sou bom o suficiente”, “não consigo fazer isso”, “jamais aprenderei isso”. 

Desamor: o indivíduo acredita ser indesejável, indigno de amor, defeituoso, imperfeito, sem atrativos, abandonado, rejeitado, sozinho. Pensamentos recorrentes são: “não sou bom nem querido o suficiente para ser amado e desejado”, “serei sempre rejeitado”. 

Desvalor: a pessoa tem a ideia de não ter valor algum, derrotada, cruel, desvalorizada. Pensamentos recorrentes são: “não mereço nada”, “não mereço viver”, “não sou digno de atenção”, “não tenho valor”, “sou cruel, “sou mal”.

Quando conceitos críticos a respeito de nós mesmos impedem que vejamos a beleza que existe dentro de nós, perdemos a conexão com a energia divina que é nossa origem, gerando uma desintegração do nosso “eu”. A psicoterapia preza pelo autoconhecimento e autoaceitação do paciente, levando em consideração que o primeiro passo para a mudança é a tomada de consciência do seu funcionamento mental. Carl Rogers já dizia “quando me aceito como sou, posso mudar” e a partir de ali resignificar experiências, flexibilizar crenças, reestruturar pensamentos irrealistas, a fim de reformular sistemas de crenças disfuncionais e fortalecer crenças positivas bem como construir um olhar interpretativo mais realista e adaptado sobre quem somos e quem são as outras pessoas que nos relacionamos.  

No processo da psicoterapia a pessoa vai se dando conta que antes de olhar para fora é preciso entrar em contato consigo mesma, olhar para suas dificuldades e reconhecer seus desejos, aceitando-os. Só depois desse auto reconhecimento é possível se libertar de algumas crenças e experimentar as mudanças desejadas. A aceitação de si mesmo traz a preparação necessária para o processo da mudança. Muitas vezes precisamos de ajuda nessa caminhada e a psicoterapia, sem dúvida, pode ajudar muito nesse processo. Só a partir disso podemos verdadeiramente nos reconectar com nosso “eu”, com nosso propósito, redirecionar nossa vida, ajustar as velas e seguir mais confiantes e inteiros, escolhendo navegar na direção de uma vida mais saudável e feliz.

As referências utilizadas neste texto estão disponíveis, caso você deseje se aprofundar no assunto. 

Fontes:

Marshall B. Rosenberg. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo. Editora Ágora, 2006.

Natalia Vinhas. Universo feminino: um olhar para sim mesma. E-book: Curso marketing para psicólogos. Florianópolis. 2019.

Walter Riso. Apaixone-se por si mesmo: o valor imprescindível da autoestima. Editora Planeta do Brasil Ltda. São Paulo. 2012.

Blog de Psicologia – Você se aceita como é? | A Caminho da Mudança – (wordpress.com). Acessado em: 02/07/2022.